Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Algumas notícias muito boas e outra nem tanto...



A notícia boa é que livro Associação é para fazer juntos tem sido muito bem aceito pelas pessoas que trabalham com o desenvolvimento de associações, por consultores e lideranças comunitárias. Pela sua abordagem e linguagem tem sido útil de várias formas



Nesse pouco mais de um ano e meio desde sua publicação tem sido utilizado como material didático em cursos e oficinas, onde tem dinamizado a transmissão de conteúdo através de leituras dialogadas e dramatizações. Lideranças comunitárias têm utilizado para fazer reuniões com associados para discutir o papel e importância de suas organizações. No Amazonas e Ceará, grupos de teatro amador fizeram pequenas peças de teatro e apresentaram em comunidades ou assembleias.

A partir da publicação e sua utilização foi criado este blog que já teve quase seis mil visualizações de página, a partir de 48 países.

O mais animador disso tudo é que pessoas e organizações estão levando o debate sobre as associações para onde ele deve acontecer, as comunidades.

A notícia não muito boa é que a versão impressa do livro está esgotada. Esperamos que em breve tenhamos novamente esse material disponível. A versão digital continua disponível no site http://www.iieb.org.br/index.php/publicacoes/?ccm_paging_p_b1746=2

Agradeço a todos que têm apostado nesta proposta de trabalho com as organizações comunitárias, utilizando o livro, lendo e divulgando o blog e, principalmente, contribuído para que as associações se desenvolvam de forma soberana. Continuamos ainda mais animados o nosso trabalho!

domingo, 18 de agosto de 2013

Livro vira teatro no Ceará



Antonio Elder de Souza, da União das Associações de Barbalha – UNAB, do município de mesmo nome no Ceará, foi um dos participantes do Curso de Elaboração de Projetos de Temática Ambiental, com enfoque no fortalecimento institucional/gestão de organizações, promovido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN.

A UNAB congrega associações de pequenos produtores, ambientalistas e universitários do município.

O diagnóstico e planejamento participativos, atividade do primeiro intermódulo do curso, segundo relato de Elder,  foi realizado em cada um dos distritos e no centro urbano e depois sistematizado em um Congresso Extraordinário da organização.

Disse que gostou do conteúdo e da linguagem do livro Associação é para fazer juntos, utilizado como texto base no curso, e quis aproveitá-lo para fazer o seu trabalho. Estimulou dirigentes de associações e sindicatos, com quem têm parcerias a adquirirem e utilizarem o livro em suas associações. Disse que vários compraram o livro impresso e outros fizeram download da versão digital e estavam utilizando.

Relatou também que o grupo de estudantes universitários de artes cênicas, com quem trabalham, montou uma peça de teatro com trechos dos primeiros capítulos, que falam da associação como forma de se organizar, como criar uma associação e os problemas enfrentados apresentados no “Deu bicho no jequitibá”. A peça foi apresentada nas reuniões dos distritos de Arajara, Estrela e Caldas e da cidade, além do Congresso. A encenação foi uma forma mais dinâmica de transmitir informações importantes sobre essa forma de organização e as atividades que estavam sendo desenvolvidas naquele momento, além de estimular o debate sobre o futuro daquelas organizações e ajudar a fazer de forma mais participativa o diagnóstico e o planejamento.

É um processo, que será concluído até o final do ano para planejar 2014.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

"Associação de fato é para fazer juntos. Não tem outro jeito."



Com essa frase uma das participantes terminou sua avaliação sobre o Curso Captação de Projetos de Temática Ambiental, com enfoque no fortalecimento institucional/gestão de associações, promovido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, que teve seu último módulo realizado nos dias 06 e 07 de agosto,  em Brasília.


Nestes três módulos, realizados em maio, junho e agosto, procuramos não só repassar as técnicas para elaboração de projetos, mas uma metodologia de trabalho para a associação diagnosticar as suas necessidades e de seus associados, planejar e buscar juntos recursos de forma participativa. Cada módulo presencial foi seguido de um período de trabalho nas comunidades para a prática das atividades aprendidas. Outro diferencial foi o curso não ser apenas um momento de formação, mas já iniciar um processo de trabalho, com vistas a resultados concretos durante a sua realização.

Relembrando rapidamente o que já foi relatado em maio e junho, após o primeiro módulo presencial, os participantes fizeram um diagnóstico organizacional e planejamento em suas associações, com a participação de diretores, principalmente. Fizeram também diagnóstico e planejamento participativo com o público alvo, que em alguns casos são comunidades e em outros organizações que são apoiadas e assessoradas. Após o segundo módulo, elaboraram um projeto de forma participativa, que deveria ser embasado no planejamento feito anteriormente, com vistas a ser enviado para um financiador. Alguns se enquadravam em um edital publicado pelo próprio ISPN, de apoio a pequenos projetos ecossociais, e foram apresentados por 9 participantes. Expirado já o prazo para entrega de propostas, estão sendo avaliados junto com dezenas de outros projetos de associações que atuam nos biomas caatinga e cerrado. No primeiro dia foram recebidas 90 propostas, segundo informação dada no primeiro dia deste terceiro módulo.

Neste último módulo, inicialmente cada participante teve a assessoria do consultor e técnicos do ISPN para a revisão de seus projetos. Em seguida, foram apresentados editais que estavam abertos e que se relacionavam com os projetos que tinham sido elaborados, inicialmente no módulo II e concluídos junto com as comunidades. Foram destacadas as principais informações a serem consideradas no edital: região de abrangência, público alvo, objetivo, valor mínimo e máximo, duração máxima, o que pode ser pago com recursos do projeto. Foi explicado que, ter trabalhado inicialmente em uma estrutura básica para a elaboração do projeto não foi uma perda de tempo e trabalho. Ao contrário, este projeto tem as principais informações pedidas em qualquer formulário. Verificaram na prática como isso de fato acontecia ao preencherem os formulários dos financiadores.

Ao descreverem no início do módulo como o curso estava ajudando a elaborar seus projetos e, no final, ao avaliarem o curso deixaram claro como a metodologia utilizada foi apropriada e como ajudou, não só a elaborar projetos, mas a melhorar o funcionamento da associação e sua relação com as comunidades:

·         A metodologia do curso em módulos, com intermódulos nas comunidades foi muito acertada. Esse tempo foi ideal para atender aos objetivos. Se tivesse juntado em 1 mês ou mesmo 1 semana, não teria o mesmo resultado.
·         O diferencial deste curso foi a metodologia. Poder trabalhar com a comunidade, colocar a mão na massa, ter a orientação do professor. Vamos buscar recursos para a associação e agora temos mais chances de ser contemplados.
·         A associação ficou desestruturada por causa do processo como foi feito o estudo antropológico da comunidade, que é quilombola. Começamos a reorganizar a associação de acordo com o livro. Um contador, que é da comunidade, organizou a papelada; organizamos atividades para captar recursos para os custos da regularização. Fizemos o Diagnóstico Participativo, mesmo com a falta de alguém capacitado para me ajudar. Tivemos um grande avanço nesse processo.
·         Com esse curso mudou a forma de ver os problemas, de como resolvê-los, passando assim a ter mais clareza da situação problema real. Agora somos capazes de desenvolver um projeto em cima de qualquer problema que se apresentar, sem tanta dificuldade, dentro de uma lógica clara e elucidadora, graças ao quadro de diagnóstico que praticamente nos dá todos os elementos de um bom projeto.
·         Estamos tendo melhor entendimento sobre a lógica do projeto, a importância de se ter o diagnóstico atualizado, a comunidade como foco das ações. Nos ofereceu maior conhecimento e aprendizagem.
·         O Diagnóstico e o Planejamento Participativos permitem que se tenha todos os elementos para a elaboração do projeto. Alguns dirigentes querem fazer do jeito deles. Agora temos claro que precisa ouvir a comunidade. Esses dirigentes precisam ser formados para isso.
·         Este projeto teve muitas mudanças no processo de elaboração. A 1ª mudança foi a discussão da proposta com a diretoria, queria que todos contribuíssem. Depois levamos a discussão para a comunidade. Sabíamos da necessidade da comunidade, mas era preciso que eles nos ajudassem expondo a sua situação e o anseio por mudanças. Depois de discutir com a comunidade, visitamos os lugares mais prováveis para implantar. Em seguida juntamos um grupo de 4 pessoas e dividimos as tarefas. Três pessoas se encarregaram de escrever o projeto e a quarta pessoa ficou responsável de constituir uma parceria com a prefeitura local. A grande mudança foi que agora eu sigo os passos que aprendi neste curso. E a segunda e não menos importante é que agora eu busco uma maior participação da comunidade e da diretoria. O projeto não é meu, agora é nosso.
·         Fazer um projeto se utilizando das técnicas que aprendemos é mais eficiente, principalmente para a obtenção de um projeto com mais perspectivas de resolução dos problemas que precisam ser resolvidos.
·         Reunidos com as comunidades, percebemos que muito do que tínhamos pensado não se adequava e tivemos que mudar.  Se não for assim, vai ter problema na hora da execução. Fizemos várias parcerias. O curso ajudou significativamente e acredito que o projeto ficou bom.
·         Foi inovador conversar com os catadores [de material reciclável] e eles dizerem e decidirem o que queriam no projeto.
·         A gente sabe que tem que fazer junto, mas acaba fazendo sozinho. Eu estava com dificuldade para fazer o projeto, fui rever o livro Associação é para fazer juntos e fui para a comunidade para elaborarmos juntos. Também quiseram que eu fizesse sozinha, mas insisti em fazermos juntos, conversamos e vimos o que a comunidade precisava. Refletimos sobre a associação e resolvemos que o projeto deveria ser para fortalecer a associação (formação dos diretores e líderes de comunidades). A metodologia que está sendo utilizada aqui contribuiu muito. Associação de fato é para fazer juntos. Não tem outro jeito.




quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Metodologia utilizada para a elaboração de um Plano de Vida



Como prometido na postagem anterior, compartilho aqui uma experiência que, recentemente, tive a oportunidade de iniciar de um processo de elaboração participativa do Plano de Vida de um povo indígena no Pará. Várias metodologias já foram experimentadas em diversos lugares do Brasil, com diferentes populações, de forma que o que relatarei é apenas uma delas.

Em qualquer das metodologias de que já tive notícia é fundamental que o processo seja iniciado com a sensibilização da comunidade ou comunidades para a importância que um Plano de Vida construído de forma participativa tem para a vida da comunidade e seu desenvolvimento. A sensibilização é fundamental para que sejam mobilizados para participar das reuniões. Dessa forma, busca-se uma participação ampla e efetiva para que o Plano tenha a devida legitimidade. Para que ele saia do papel, é fundamental que o maior número possível de pessoas se envolva, se comprometa e enxergue a si e a seu futuro nele, para que esteja estimulado a executá-lo depois de elaborado. Neste caso, a sensibilização e mobilização ficaram a cargo dos dirigentes e conselheiros da associação. O consultor pode participar desse processo, mas é muito importante que lideranças da comunidade estejam à frente.

É fundamental não limitar o número de participantes. Se o que está sendo discutido é o presente e, principalmente, o futuro dessas pessoas, todos os que estiverem dispostos devem ter a oportunidade de participar. Quanto mais pessoas participando, maior a legitimidade. Por isso a opção foi fazer reuniões por aldeia, abrindo a participação a todos os interessados.

Em cada aldeia em que as reuniões já foram realizadas, foi explicado que um plano de vida é olhar o presente, pensar o futuro e discutir o que precisa ser feito para chegar ao futuro desejado. Foram apresentadas três perguntas orientadoras para as discussões:

  1. Como estamos vivendo hoje: o que está bom e o que está ruim?
  2. Como queremos viver no futuro para sermos felizes em nossa terra?
  3. O que precisamos fazer para termos o futuro que desejamos?

As respostas a estas perguntas poderiam ser discutidas em grupos. Em especial para a terceira pergunta, poderiam ser organizados grupos temáticos, com as pessoas mais envolvidas e interessadas em cada tema. Como estávamos trabalhando com um grupo não muito grande eles mesmos optaram por discutirem todos juntos. Primeiro conversaram em sua língua materna. Depois, ao terem chegado a algum consenso, traduziam. Quando havia alguma intervenção a ser feita ou informação complementar a ser dada, voltavam a conversar na língua e a tradução era feita no final. Esse processo se repetiu todo o tempo.

O resultado das conversas foi sistematizado no quadro negro da escola indígena ou em folhas de flip chart, de forma que podiam acompanhar e opinar sobre o resultado. É preciso que o consultor assuma a posição de quem facilita um processo que é da comunidade. O Plano de Vida não é do consultor, é deles. Apenas orientamos o processo.

Ao responder o que estava bom ou ruim, surgiram os temas relevantes para a comunidade. Eles foram a base para pensar o que queriam para o futuro: valorizar e dar continuidade ao que estava bom e planejar ações para melhorar o que estava insatisfatório.

Para a definição de estratégias para melhorar as condições em que estavam vivendo foi ressaltado que deveriam pensar não só nas políticas públicas, parcerias e financiamentos (oportunidades), mas também naquilo que eles tinham condições de resolver com seus próprios recursos (potencialidades). Compuseram o Plano de Vida, o problema enfrentado, o objetivo que o solucionaria, as atividades, responsáveis pela sua organização e os parceiros para cada um dos temas: saúde, educação, fiscalização e proteção da terra indígena, cultura tradicional, alimentação e geração de renda.

Foi interessante notar que algumas ações, como o fortalecimento das práticas culturais no quotidiano da aldeia e a solução para o lixo espalhado foram planejadas com base nas potencialidades. Também ficou claro que as atividades internas da aldeia devem ficar a cargo da liderança tradicional e as negociações com órgãos governamentais, parceiros e investidores, a cargo dos dirigentes da associação.

Ainda serão realizadas reuniões em outras aldeias e, depois de sistematizado, o Plano de Vida será validado em uma reunião com as lideranças.

Em uma das aldeias, terminamos o trabalho com cantos e danças tradicionais no centro da aldeia, para as quais fui convidado e aceitei com alegria.