Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




domingo, 28 de junho de 2015

Intercâmbio como construção democrática do conhecimento

O intercâmbio entre comunidades e organizações tem sido bastante utilizado como estratégia de formação através da observação de experiências que estão sendo executadas com algum grau de sucesso e da troca de informações e saberes. Vejo também como uma forma de valorizar os conhecimentos existentes e democratizar a produção de novos. Na Aldeia Capivara, no Parque Indígena Xingu – PIX, o vice cacique, ao receber um grupo de 17 dirigentes e conselheiros de associações indígenas do Baixo Rio Teles Pires que eu acompanhava neste mês de junho disse que “o que vocês aprenderam, nós não aprendemos; o que nós aprendemos, vocês não aprenderam. Por isso esse intercâmbio é muito importante para nós.”


Recentemente uma liderança comunitária que estava querendo organizar um intercâmbio me perguntou o que ele é de fato. Comecei pela etimologia da palavra: “câmbio” é troca e “inter” é entre, então intercâmbio é troca de conhecimentos e experiências, por exemplo, entre pessoas ou grupos.

A democratização da transmissão e construção de conhecimento através do intercâmbio começa com esta sua característica básica: todos os participantes têm conhecimentos importantes a partilhar e a troca se dá em mão dupla ou múltipla, conforme o caso. Lembrei em um dos momentos desse intercâmbio da Távola Redonda, do mítico Rei Arthur, quando preparávamos em roda as cadeiras e mesas para iniciar uma das conversas.

Disse também para aquela liderança que ao preparar um intercâmbio é preciso definir um tema e o objetivo que se quer alcançar com ele. Esse objetivo deve estar contextualizado em um trabalho que está sendo desenvolvido e que se sentiu a necessidade de confrontar conhecimentos teóricos com experiências práticas, complementar informações, ampliar o leque de possibilidades. O tema pode estar previamente definido na estratégia de formação, proposta e executada em geral por uma organização parceira, mas especialmente os objetivos específicos e resultados a serem alcançados devem ser definidos em conjunto com os participantes. O técnico ou consultor tem a função de orientar o processo.

Outro passo importante é identificar pessoas, lugares, organizações que possam ter conhecimentos e experiências significativas para trocar sobre o tema. A prospecção dos possíveis grupos e organizações é um momento muito importante, para o qual se deve dar especial atenção. As diferentes alternativas devem também serem discutidas com o grupo, levando-se em conta qual oferece maiores condições de alcançar de maneira mais significativa os resultados, levando-se em conta a logística, tempo disponível e orçamento.

O grupo, comunidade ou organização a ser visitada deve ser informado previamente das características dos visitantes, o contexto do trabalho que está sendo realizado, os objetivos do intercâmbio e os resultados que se espera alcançar com ele, para que possam se prepara adequadamente. As necessidades de hospedagem e alimentação, entre outras, também devem ser informadas claramente. Surpresas nesse sentido podem causar constrangimentos tanto nos visitantes quanto nos visitados, que em geral fazem questão de receber bem.


A execução também merece cuidados. Antes de iniciar a viagem é importante se reunir com o grupo para detalhar ou lembrar o que já foi detalhado sobre os objetivos e resultados, pactuar algumas regras de convivência e dar as últimas orientações necessárias. Tenho observado uma grande possibilidade de intercâmbios facilmente descambarem para um passeio, se transformando em momento de puro lazer ao invés de atender aos seus objetivos. Claro que é importante prever momentos de conversas informais, um joguinho de futebol no final da tarde, apresentações culturais ou diversão à noite, mas não se pode perder o foco. Avaliações com o grupo durante o desenvolvimento da atividade ajuda a corrigir rumos quando necessário.

Neste momento é fundamental o técnico ou consultor não perder de vista qual é o seu papel. Não é o seu conhecimento técnico que se foi buscar, mas sim os conhecimentos e experiências adquiridas e desenvolvidas pelo grupo visitado, a troca com os visitantes e a construção conjunta de novos conhecimentos. Ele é um facilitador desse processo e deve contribuir para fomentar a troca e a reflexão, lembrar quando necessário de aspectos que não foram tratados ou podem ser melhor explorados e eventualmente complementar com alguma informação que for relevante e contextualizada na conversa que está sendo feita.

Solicitar previamente um relato de cada um dos participantes ou em grupos contribui para que direcionem sua atenção durante as atividades e, depois de terminadas, seja um momento para organizarem e sistematizarem suas informações. É também importante como registro ou memória de sua realização.

Uma avaliação final é a ferramenta adequada para checar o alcance dos objetivos e resultados e contribuir para aprimorar futuros intercâmbios.


Para não alongar muito essa postagem, deixarei para a próxima o relato do intercâmbio realizado neste mês entre as organizações indígenas do Baixo Rio Teles Pires e do Parque Indígena Xingu.